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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Cerimônia do casamento, o prelúdio da família e da sociedade sólida.

A vida conjugal ortodoxa começa
com uma cerimônia honrosa e pública.
"One wife, one life"
[Uma esposa, uma vida]
Dito popular que aprendi de um indiano.

A inspiração desse post veio ao saber que as composições de Jeremiah Clarke (1674-1707) e Henry Purcell (1659-1695) acompanham cerimônias de casamento. Tais composições para órgão e trompete dos compositores levam a imaginação ao matrimônio nobre tal como sacramento, propagador dos bens da vida, inspirador da felicidade. O casamento assim é como deve ser, uma iniciação pública a vida conjugal salutar que se desenvolverá tão nobre quanto essa iniciação, a procedência dos bens da família, genes que Deus criou, filhos semelhantes aos pais, eventos, um pequeno feudo, saúde e ar fresco à sociedade, não perfeito, para longe os contos de fadas, mas vá ver se se encontra tal beleza verdadeira no mundo moderno?

Uma percepção avessa surge no mundo contemporâneo. Muito constrange a situação da relação conjugal de alguns, esses  não se casam, 'se juntam'. Os nomes adequados as práticas ilícitas envolvidas são concubinato, amasiamento, coabitação, fornicação e prevaricação ou adultério, a infidelidade e o descarte das amantes tornou-se hábito, pilastra de um cinismo que força a esperança e promove a apatia, fazem pouco do VI e do IX mandamento. Não tem nada de novidade, o declínio humano sentido irracional que a humanidade já teve a desonra de experimentar no passado pagão e idólatra está a tona e pior por apostasia, uma desgraça, que por violar a condição dos bons costumes é rotulado como "progresso" no cronograma de ideólogos mefistofélicos. 

O mau princípio narcisista se desenrola na erotização da sociedade e consequente liquefação. O impacto sobre muitas almas mais inteligentes é a sensação de prisão sob a sensualidade que domina os ambientes, uma espécie de gnose onde um difuso demiurgo institui uma prisão onde nada é capaz elevar a alma e todos são forçados a convirem com as grosserias da impureza, quem se recusa pode chegar ao erro dialético de um 'suicídio libertador' dos cárceres hedonistas. Entre os índios da Amazônia, me contaram, isso é muito comum, a tribo vive na embriagues e na orgia e alguns jovens se 'libertam' pelo suicídio; pelo longa-metragem nórdico 'O Homem que Incomoda' (Den Brysomme Mannen, 2006), é possível notar simbolicamente esse sentimento de prisão com mais fineza nos mecanismos de uma sociedade idealizada na apatia.

A união conjugal e a procriação passam a ser vistas como asquerosas, também nada novo pois as heresias cátaras da Idade Média possuíam esse mesmo caráter ao ponto de matarem mulheres grávidas sob o pretexto de aprisionarem almas na imundice da carne. Ha estudiosos como o Rougemont que mostram ser a heresia de Toulouse, que deu inicio ao Santo Ofício, a mesma heresia hodierna em escala global, muito se fala de amor, muito se fala de aborto.

Baixaria. A esfera privada está pública.
Outro aspecto de grande reflexão do mundo moderno é a quebra da coesão social (liquefação) e confusão das esferas públicas e privadas que de certo modo explica algo sobre como se dá essa erotização da sociedade. As relações conjugais e seus detalhes pertencem ao casal, ao padre, ao médico e demais conselheiros seletos e são temas privados, naturalmente privados, como usar o banheiro ou o vaso sanitário, não é público e é vexatório se for. O sociólogo Bauman acusa programas vulgares do tipo 'Casos de Família' do SBT ou 'Encontro' da rede Globo de promoverem uma transgressão generalizada das esferas uma vez que as orientações morais eficazes à vida privada, tal como as da Igreja Católica, foram completamente neutralizadas e posta de lado pela grande maioria das pessoas e pelos padres principalmente, tais programas passam a ser orientadores por via dos exemplos de seus entrevistados, um ponto preciso de invasão entre as esferas.

Vejo a gravidez de uma mulher como imagem natural mista da vida privada e pública. Se ela é legitimamente casada é honroso vê-la como mãe, sua maternidade é fonte de uma alegria plena, exemplar para a esfera privada e para a pública que possuem as devidas medidas e estão em ordem.

Se ao contrário ela é amasiada ou, se pior, nem sabe quem é o pai, isso vira um escândalo e causa uma dissonância que é falsamente resolvida publicamente pelos programas. Ela prevaricou na esfera privada e será posto em público quem é o pai em uma nudez vexatória. A princípio a doce  intenção do 'casar para quê se o amor não precisa de testemunhas?' acaba sendo um crime muito bem testemunhado e sofrido pelo inocente que nasce em um lar todo desestruturado e desumanizado.

Ora escândalo. Escândalos são de fato para os homens, criaturas de Deus. Se escandalizam por tropeçarem no escândalo. Quem vive sem se escandalizar pelo vício está rastejando como cobra, pois quem está se rastejando não é capaz de tropeçar. A sociedade moderna é incapaz de se escandalizar, evoluída, deixou de ser humana e virou um outro animal como tanto se prega nas leis gnósticas. Raça de víboras.

Outro ponto é como bem ensina o casal Zucchi da Montfort, a questão dos que enfim se casam, mas evitam  constituir família vivendo uma esterilidade voluntária e vergonhosa. Os filhos são os maiores bens de uma família superando o imóvel, os passeios e tudo mais de material e fugaz que o casal moderno tanto valoriza. A prioridade do casamento é ter filhos, quantos forem e não empilhar bens.

Como bem é tratado, a mentalidade na doutrina liberal ensinava que o casal deve se constituir sim, talvez, mas com dois filhos no máximo e com pesar nos bolsos. Hoje, no crepúsculo iluminista, a ideia que resta de casamento é como uma briga contra a consciência,  geralmente feminina que exige uma estabilidade. Filhos então nem se cogita, brinca-se de casinha e os trata como acidentes. Nesse passo, basta uma auto-ajuda para adormecer a consciência e já nem se casa mais. A ideia de casamento migra para os homossexuais que veem a palavra 'casamento' como um passe mágico que poderá transformar o ilícito em lícito, o anti-natural em natural. Realmente satânico.

A pontualidade do casamento e sua fidelidade, desde as civilizações antigas como mostra Fustel de Coulanges, é essencial a sociedade e a proliferação das virtudes e da educação, isso quer dizer que a família é um meio condutor da carga de toda uma tradição de conhecimento e sabedoria ao pequeno 'bárbaro' que chegou ao mundo em branco. Além, cabe indicar o caminho que se abre a santidade, afinal o matrimônio é uma instituição natural elevada ao estado de sacramento do qual capta inúmeras graças.

Fé em Deus e na santíssima Virgem.

Mateus R. C. de Paula.

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