cum vitiis et concupiscentiis"
"Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne,
com as paixões e concupiscências."
(Epístola aos Gálatas, V,24)
Os gregos em sua sabedoria foram sagazes na criação do símbolo do Minotauro. Um homem sem inteligência dominado pela ideia de reprodução e pelo instinto sexual, preso no labirinto da vida manifestando a estupidez e a brutalidade.
Nas lendas ha Teseu como herói vencedor da besta, "homem forte por excelência", aquele que matou o Minotauro, uma assombração do homem verdadeiro, racional.
Desconsiderando a questão de Ariadne que se funda no absurdo da existência do mal, salva-se o heroísmo de Teseu, é necessário ao homem de valor matar o Minotauro. Vê-se ainda hoje uma figura muito similar, especialmente para os hispânicos, que é o toureiro. Nas arenas em três tempos se destaca a inteligência, a elegância habilidosa e a bravura dominando a fera passional, figura do selvagem. Os românticos comiseram o touro, mas é bem sintomático que assim façam; seus valores são sobre as paixões ao invés das virtudes intelectuais, então se identificam com a besta.
São Paulo de vários modos exorta os pagãos sobre as obras da carne (opera carnis, conf. Epístola aos Gálatas, V), mas também se depara com um "Minotauro", anjo de Satanás, aparentemente sua maior tentação:
"Et ne magnitudo revelationum extollat me datus est mihi stimulus carnis meæ angelus Satanæ ut me colaphizet" Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. (II Epístola aos Coríntios XII,7)
É notável que para o santo Deus concede a tentação para combater o orgulho, algo bastante compreensível pela baixeza desses pecados. Por outro lado em várias epístolas ele exorta também o combate da fera:
"Dico autem spiritu ambulate et desiderium carnis non perficietis" Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. (Epístola aos Gálatas V, 16)
"Si enim secundum carnem vixeritis moriemini si autem Spiritu facta carnis mortificatis vivetis" De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, (Epístola ao Romanos, VIII,13)
"Fornicatio autem et omnis inmunditia aut avaritia nec nominetur in vobis sicut decet sanctos" Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a santos. (Epístola aos Efésios V,3)
Etc; etc; etc.
Saliento o problema da carne e da imaginação não tornando vãs as palavras dirigidas aos Efésios. Uma vez que o pecado original nos desordena as potências da alma colocando os afetos sobre a inteligência de modo automático, as obras da carne não são boas nem mesmo para serem mencionadas. A grande fatalidade do inverso seria usar a inteligência para justificar as concupiscências e paixões ou até mesmo gerar uma meditação sombria que em nada edifica.
No paganismo havia o erro de perceber o modo estoico como via de glorificação humana ao ponto de concluírem os mesmos ideais dos cátaros, na caso Teseu simboliza também a transcendência pela aversão a carne a ao matrimônio como sendo o mal em si, coisa que só vai ser corrigida pela figura também paulina do casamento entre Cristo e sua Igreja, modelo de fecundidade e ordem social .
Toda essa inspiração me veio ao revisitar um texto do prof. Orlando Fedeli (aqui), relacionado ao livro "Nos labirintos de Eco". Espero revistar mais elementos sobre a Grécia, há muito o que considerar.
Que a cruz de Cristo nos mate o Minotauro como exorta São Paulo, ou seja, as concupiscências e as paixões. Ave-Maria!
Mateus R. C. de Paula.
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