Ingenuidade e Inocência.

A ingenuidade modernista. 

"Stultitia conligata est in corde pueri 

et virga disciplinæ fugabit eam"

[A tolice é natural na mente da criança, 

mas dela se afastará pela vara da disciplina.]

(Provérbios XXII; 15)

"Usquequo parvuli diligitis infantiam et stulti."
[Até quando, ó ingênuos, amareis a ingenuidade?]
(Provérbios I; 22)

Certa vez na sede da Montfort em São Paulo tive uma aula com o Bruno Oliveira sobre arte.

Chamou-me a atenção o fato de que os modernistas usam da ingenuidade como parte do processo que leva ao satanismo. O fato apresentado foi de que a ingenuidade desarma a pessoa e causa abertura maior a receptividade de ideias, preponho-me a desdobrar o fato.

Ingênuo e inocente, tratarei desses termos usualmente, esses se confundem quando alguém é definido por agir sem malícia. Inocente será tratado como aquele que não tem culpa, ingênuo como o que não tem sabedoria. Um pouco mais além o ingênuo por vontade será tratado como culpado de um atentado ao verdadeiro testemunho acabando por violar os mandamentos da vida intelectual, o inocente já como um caso de justiça, no caso, quem age sem malícia é justamente inocente.

Uma mentalidade nada sã vê na ingenuidade a ordem e os bons costumes. Ser ingênuo passa a ser sinônimo de bom cidadão ou bom cristão. Toda a explicação mais profunda está na mentalidade liberal de "inocência primeva" do Romantismo Alemão que origina isso, é certo que tal prática torna-se uma elemento explosivo por violar a nossa natureza racional.

A ingenuidade recheada de tolices e crendices soará como um insulto a maturidade da nossa razão, especialmente a dos homens jovens. Essa reação é natural e será dada por protestos que tentarão violentar a mendacidade do ingênuo por várias vias. A melhor é a orientada na escolástica e em sã doutrina que busca a verdade ontológica das coisas, mas as piores são as que nos são preparadas pois os Modernistas conhecem o mecanismo de nossas almas e já nos aguardam com suas soluções ideológicas tais como o marxismo e o freudianismo que se apresentam como verossímeis, recortes da realidade e como "mentalidade madura". O ingênuo de bondade acaba por produzir uma onda de protestos políticos e desejo de revolução, na prática é verdadeiramente mais estulta que a primeira por acreditar ser mesmo solução, a ideologia acaba produzindo um ciclo vicioso onde todo o mal agora é visto com ingenuidade para se tornar inocente. Tais posturas são contrárias a realidade de nossa natureza ferida voltando a cair em uma ingenuidade ainda mais distante de sabedoria.

Uma característica apontada por Sloterdijk no Crítica da Razão Cínica (Ed. Liberdade; p.89) é que os indivíduos que assumem uma postura freudiana pelo inconsciente acabam por alargar o conceito de ingênuo abrangendo todos os processos mais sóbrios da consciência humana. Todos os tesouros da escolástica e da filosofia aristotélica entram num pacote que duvida de todos as intenções elevadas pois tal escola crê que nosso verdadeiro eu é oculto e só deseja coisas baixas. O mesmo autor trata da postura marxista produtora de um pessimismo cinzento onde política e poder não almejam nada de elevado tal como uma nobreza medieval (ingênua talvez a tratem), mas apenas zombaria apolítica sem solução.

Arte Naif de Alfredo Volpi

Na arte da pintura as primeiras ondas modernistas são as chamadas naïf, ou arte ingênua, essa produzirá mais tarde as que cultuam o horror. Na música-rock os primeiros movimentos são sentimentais (Elvis, Beatles), os próximos são sensuais e satânicos (Led Zeppelin, Kiss). Na chamada "música erudita" isso também ocorre de algo romântico e dulçoroso até cair em um Xenakis no pós guerra. No geral a mentalidade Belle Epoque e Americanista, ambas liberais, tratarão de formar os ingênuos; esses serão pais e avós dos hippies, da Woodstock e depois dos satanistas e demais selvagens.

Ainda hoje ha a ideia de que o bem está mesclado com a ingenuidade pueril da escola liberal. A mais evidente atuação dessa corrente ocorre nas paróquias onde os padres que estão embebidos dessa mentalidade produzem cultos irreverentes e paróquias lotadas de idosas farfantes ou piegas. O protesto é natural, a juventude que inicia a vida intelectual não tem interesse nenhum nessas tolices. Para alguns o mal passa a ser tido como solução, neste aspecto surgem os que se entregam as paixões e alguns ainda que acabam assumindo que Satanás é o modelo de virtude por ser o primeiro revolucionário. Salta-se de um erro ao outro, ou se é uma velha mendaz paroquiana ou se é um roqueiro exibicionista agnóstico ou ateu. 

A situação de extrema doçura dos paroquianos produziu de fato uma indolência as ideias do mundo que triunfaram na década de 1960 acabando com grande parte da militância ortodoxa. Infelizmente muitos chamados tradicionalistas assumem qualquer postura anterior ao Concílio Vaticano II (CVII) como sendo válida; na prática, sou testemunha, isso acaba por produzir, por exemplo, uma Missa Tridentina com canções doces demais que acabam efeminando os ânimos, sinceramente acho que isso produziu uma crise que o CVII simulou querer acabar quando proposto.

Outro ponto que noto é que geralmente a argumentação sentimental e maliciosa dos homens maus a favor do aborto ou dos homossexuais, por exemplo, é sempre apelando a ingenuidades hipotéticas que produziria um aspecto inocente. Não ha o assassinato, nem a sodomia, nem o escândalo, nem desordem social, é tudo ingênuo e cheio de boas intenções. Em nome do Amor está valendo tudo, não ha combates ou apologética que exorcize esse demônio do amoreco, os padres, os protestantes, os sodomitas, os pedófilos estão todos servindo esse Amor dos Infernos. Quanta ingenuidade, a revolta apita dentro de nós, mas não nos revoltamos, sirvamos a Deus com justiça.   

Mateus R. C. de Paula.